O Bailar das Mãos de um Marungana




Marungana

São mãos calejadas, as mãos destes homens. São mãos delicadas, são mãos talentosas, são mãos mágicas... São os pais das bainhas, dos belos bordados rendados. Vestidos floridos, com decotes devidamente cosidos. Casacos elegantes, calças com viga, que circulam entre as manhãs geladas, ou noites estreladas. No distrito de Matutuine, ou mesmo na Mafalala, no lendário Xipamanine, até aos confins de Nacala...

Eles estão por todo lado, são os nossos Marunganas, que elegantizam meninos e meninas, homens e mamanas.

Sithoi Marungana, é mais um entre tantos espalhados nos subúrbios. Para ele, a vida começa às 8. Mas ele “nasce” antes da vida, muito tarde se deita e cedo levanta. Encomendas são tantas, e o povo é exigente. É o menino, da primária à secundária, que pede uma calça com “style”, para causar inveja em “sua área”. É a adolescente “Mary”, que na verdade é Maria? Quer um vestidinho com “Swagg”, idêntico ao da Ciara. E lá vai Sithoi Marungana, bem no centro do mercado, ao ritmo dos seus pensamentos, criando obras de arte “Cracatxa, cracatxa, cracatxa...” são os pés balançando as cordas da máquina, concentrado, ignorando o mundo, vai embelezando a vida. Faz tudo com gosto, mas tem as suas preferências, as capulanas são o que lhe dão mais prazer, cose-as com excelência!

Mas mudaram-se os tempos, tais encomendas escasseiam, os “putos” desenham novos modelos e os Marunganas “pirateiam”. Trata-se de ganha pão, que podem eles fazer? Não há tentativa de dar opinião, quando o assunto é sobreviver.

“Cracatxa, Cracatxa...”, “ai como vida é dura, mas amo o meu trabalho. Eu não tem fartura, mas o básico xta segurado.”

Como fica feliz vendo sorrisos sinceros, de satisfação, gratidão e confiança, pelo seu brilhante desempenho. Mas é humano, sofre injúrias quando erra, jogam a sua reputação na madáca (lama). Reputação essa, fruto de tanta paciência e aprendizagem constante. Há até quem entenda, há quem vai e não volta. Mas antes, atira-lhe uma tantas palavras porcas, e vai-se embora, pela rua sem porta.

“Cracatxa, cracatxa... , é o ritmo do meu quotidiano, swas, swas... , sou eu passando as mãos pelo pano. A sociedade me despreza, pois sou magro como agulha... mas são tão hipócritas! Logo pela manhã xta na minha porta, pedindo pra dar um jeitinho, em alguma roupa rota. E lá vou eu, cracatxa, cracatxa... swas, swas... dando decência à aparência, ignorando todo o tipo de ofensa”

Desde o amanhecer ao anoitecer, Sithoi Marungana batalha, para levar mantimento suficiente para seus filhos, para sua amada. Para que os pequenos não passem a vida aprendendo o bailado das suas mãos.

Desde o mês da fome (Janeiro) ao mês da “fartura” (Dezembro) o Marungana está ao lado da sua amada. Aii... grande amada! Nada mais e nada menos, que a senhora sua máquina. Pois faça chuva, faça sol, ela sorri e canta “cracatxa, cracatxa...” e Sithoi agradece, “swas, swas...” assim vai a vida, até que o inesperado aconteça. Até que o bailado termine, com estas juras de amor


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