Deus, Salve a África (Nkosi sikelel' iAfrika)



Africano

Entre os passeios becos e estradas soviéticas, descansam as pedras que construíram o socialismo, descansam os sonhos de uma geração que quis a justiça no mundo ,igualdade para todos, mais respeito pela classe operária, mais atenção para os oprimidos.... Um idealismo que metade do mundo ignorou e a mesma tratou de enterrar entre a apodrecida moral do ser Humano.

Estes passeios, becos e estradas soviéticas, receberam beijos das pegadas de um jovem. Vindo de um lugar do mundo onde o sol é mais forte e a pele é mais escura. Terra que acolhe lágrimas dos seus filhos e faz brotar revolta. Terra que nasce, cuida e despede em paz. Espera, porém vê muitos dos seus filhos não voltarem mais. África, a terra sonâmbula!

Muitos como este jovem abandonam os seus familiares, o chão que lhes pariu... e carregaram consigo sonhos, rumo ao berço e ao túmulo do socialismo.

Pelo frio rijo, o jovem Akuebe despertava, preparava-se para ir a sua universidade, lutar para que seus sonhos virassem realidade, em um pais que ele sempre admirou e defendia com unhas e dentes quando tentavam desrespeitá-lo. Como se fosse a sua própria nação, o seu ventre patriótico! Akuebe amava a Rússia com todo seu coração, tanto se esforçou para lá estar e tanto se alegrou por ter conseguido.

Entre os passeios, becos e estradas soviéticas, Akuebe andava como se estivesse no paraíso. Como se vagueasse em chão sagrado. Akuebe recordava das Histórias contadas em volta da fogueira, por um grande homem que também foi forasteiro em terra de Leninine, Tulisstogo e Pusquim. Akuebe ouvia que o povo era diferente, que lutava para uma mudança no mundo, que lutava por um mundo igualitário, para que as crianças tivessem um futuro seguro... e menos sofrido!

Akuebe ouvia que os filhos dessa terra, haviam vencido um ditador. Que ajudaram almas africanas a alcançar a independência. Este jovem ouvia e sentia que o bem havia vencido a demência e lutava para que assim fosse pelo mundo inteiro. Ele maravilhava-se, encantava-se e sonhava em conhecer este país de “gelo”. Que importava a temperatura que ele não estava habituado, se as pedras desse pais continham história por todo lado?

Mas algo o intrigava. Aquele belo pais que tanto se falava, entre as noites de céu estrelado, nos seu mais doce passado. O chamado continente sagrado, as histórias que ele lá ouvia não reflectiam o que ele vivia.

Akuebe pensava e admirava, como tudo poderia ter mudado? Se era tão bom quando era escutado e encantador quando imaginado.

Os nativos olhavam-no secamente e despertavam em gargalhadas. Os olhares eram tão picantes, penetrantes, como o frio entre as manhãs geladas. E ele fingia que não sentia e deixava-se levar entre os seus passos. Aquelas estátuas de heróis entre as praças, faziam-no esquecer que foi descriminado, pois mesmo com o autocarro cheio, ninguém queria sentar-se ao seu lado.

Na universidade era o único negro. Lá, o ambiente era acolhedor. Ele despertava curiosidade entre os colegas, era tema de conversa, alvo de carinho e admiração, por ser portador de tão magnifica inteligência.. mas também recebia o ódio e discriminação não faltava. Ainda que não fosse revelada, há olhares que superam palavras.

Mesmo assim Akuebe ajudava quem tinha duvidas, ele explicava e nada cobrava. Tentavam agradecer com dinheiro, mas ele não aceitava. Fazia-o de coração, sentia-se devedor de tal ajuda, pelas armas desse povo, ele e a sua nação eram “livres”.

Não conseguia entender como havia gente que não gostava de si, se nada havia feito. Tudo que empenhava-se em fazer era o bem. Mas ele não ligava, julgou que fosse algo passageiro, pois todas as feridas da vida tem seu tempo, para que estejam totalmente curadas. Assim como as estações do ano, vem uma e outra se vai, uma mais bela e outra mais rica. O sol continua sendo o mesmo, as leis da natureza predominam. Assim seria com ele e sua vida, mais cedo ou mais tarde, a paz e a harmonia chegaria e se um dia fosse embora ele estaria pronto para suportar a sua ausência.

O tão esperado momento chegou, houve uma certa estabilidade, a harmonia se fez presente. Os amigos trouxeram mais amigos e a discriminação outrora existente, parecia não existir.

A sua solidão foi quebrada. Akuebe já passeava acompanhado de amigos Russos, pelas noites divertia-se a valer e só voltava ao amanhecer. Ganhou namoradas e admiradoras, quase um fã clube para complementar. Suas notas eram invejáveis e frequentemente era solicitado para satisfazer dúvidas. Apresentar eventos entre a sua gente, visto que era um orador eloquente!

No autocarro, já não se incomodava, com os olhares que lhe eram dirigidos. Sentia-se valoroso, vigoroso e estimado entre os seus. Assim que entrava em sua universidade, era alvo de saudações, era Akuebe o inteligente, Akuebe o simpático, Akuebe o quebra corações.

Em mais uma noite como tantas, foi convidado para sair, aliviar o stress da universidade e comemorar a sua vitória no festival nacional de poesia. Nesse dia, havia mais gente que o habitual, estavam quase todos os seus colegas. E o homem da noite era ele, Akuebe o africano magnífico! Como há muito não pisava em terras Russas.

A noite foi longa, uma maravilha, havia sorrisos por todo o lado. O negro colorindo o branco. Akuabe sentia-se orgulhoso, sentia-se honrado!

Terminada a festa, Akuebe teve de regressar ao seu lar, ofereceram-lhe uma carona, mas ele recusou, quis pisar em aquelas pedras que transmitiam magia e mistério. Quem diria! Ali estava o seu sonho, virando realidade. Pensava na promessa que fizera a sua mãe .Que um dia voltaria Doutor, dono de si mesmo e lutaria para despertar África e ajudaria no seu desenvolvimento. Limparia as lágrimas que tanto abundam, naquele abismo de sofrimento.

Conversava com as pedras, sentia-se feliz, quase concretizado. Ao notar, já estava perto de casa. A rua estava deserta, era somente ele e a neve. Saudades da terra amada batiam mais ainda e pôs-se a cantar o Hino de África "Nkosi sikelel' iAfrika” (Deus salve a África)

(Xhosa) Nkosi sikelel' iAfrika
Maluphakanyisw' uphondo lwayo,
(Zulu) Yizwa imithandazo yethu,
Nkosi sikelela, thina lusapho lwayo...”

Bom Senhor, abençoe a África
Aumente a sua glória até ao alto
Ouça nossas orações
Deus abençoe a nós, seus filhos

(Sesotho) Morena boloka setjhaba sa heso,
O fedise dintwa le matshwenyeho,
O se boloke, O se boloke setjhaba sa heso,
Setjhaba sa, Afrika - Afrika...”

“Deus, nós lhe pedimos que proteja nossa nação
Intervenha e acabe com todos os conflitos
Nos proteja, proteja a nossa nação, nossa nação,
África – África”


Akuebe sentia as lágrimas que escorriam sendo congeladas, pelo frio que lhe batia a face, África, a terra adorada esperava por si e pelo seu apoio.

O seu espírito estava na Mãe negra.  Repentinamente um ruído o fez voltar a si, vinha um automóvel com as luzes apagadas. Esforçou-se mais para ver quem lá estava e notou que eram uns dos seus amigos que haviam estado com ele na discoteca. Tudo que fez foi sorrir, embora estivesse curioso, para saber que motivo os levava a passar por aquele caminho entre a madrugada. Embora fosse o país deles, eles viviam distante do seu lar de estudantes que estava a mais 10 passos do lugar onde ele estava parado. O carro estacionou e um dos seus amigos baixou o vidro e chamou por ele.

Akuebe dirigiu-se ao carro e perguntou que eles faziam por ali. Eram quatro jovens no total e todos eles soltaram uma gargalhada, o que o deixou meio pasmo. Terminados os risos um deles falou.

- Nos é que devemos perguntar-te o que fazes Tu aqui. Ainda não notaste que não és bem vindo? Julgas que te aturamos este tempo todo por seres mesmo o que achas que és? Deixa-me dizer-te algo, penso que falo também pelos meus amigos. Os únicos que têm direito a ser estrelas na Rússia, são os próprios Russos. Volta para a tua terra, já temos a tua passagem de avião. Vai com o diabo, ele também é preto, será boa companhia para a tua pessoa.
Nesse mesmo instante, uma macarov foi apontada a sua cabeça e logo em seguida, um tiro ecoou entre as ruas russas. O carro saiu velozmente e perdeu-se no escuro.
O jovem Akuebe caiu estatelado entre as pedras que ele tanto admirava e amava e com ele caíram os seus sonhos, de uma nação e de um continente.
Mãe África mais uma vez foi desfilhada.O filho que ela vira partir, jamais voltaria e sugaria do seu seio.
Nesse mesmo instante, Mãe África aumentava o seu grito de dor...


(Africâner) Uit die blou van onse hemel,
Uit die diepte van ons see,
Oor ons ewige gebergtes,
Waar die kranse antwoord gee,”

Do azul dos nossos céus,
Do fundo dos nossos mares,
Sobre nossas montanhas eterno,
Onde o ressoar penhascos,


Nkossi sikelel iAfrica...

Deus salve a ÁFRICA...

A Terra adormecida...


Compartilhe este artigo :


Share

2 comentários:

  1. Parabenx Chil muito tocante heix

    Kwase k chorava a kwando da morte dele foi triste!!

    Forca aí moamigo

    Bjh

    ResponderEliminar

Siga o Moz Maníacos no Facebook

Olá leitor,
Nao comente como Anónimo Use a opção Nome/Url para comentar com seu Nome ou Nick. Obrigado!