Chamaram-na Prostituta...





Era meio de semana, início do dia, o padre Almeida, como sempre, acordou cedo e limpou o seu pequeno local de trabalho e adoração. Era assim que ele chamava a Igreja" este é o meu pequeno local de trabalho e adoração..." e era de facto. O Padre era atencioso, bom conselheiro, analista de problemas sociais e políticos, enfim, uma boa personalidade. Após terminar os seus afazeres, o padre sentou-se num dos bancos e pôs-se a meditar na vida da população da vila. Haviam muitos forasteiros entrando e saindo dalí naqueles dias, um sem fim de camionistas que perturbavam as calmas noites com o barulho ensurdecedor dos seus motores, musica e gritos embriagados.
Muitas crianças vinham abandonando a escola e a catequese para dedicar-se a venda de produtos diversos junto à fronteira. Foi o que fez Pedro, um dos seus melhores acólitos, do nada resolveu largar suas tarefas na igreja. Encontrou o jovem rapaz junto à fronteira, com caixas de cigarro e cerveja em lata gritando: "cerveja, 25...25..bacela de cigaroooo..." uma decepção terrível.

O padre Almeida, não media esforços para desencorajar tais decisões, pedia patrocínios em várias ONG's, em Portugal, em Roma, Alemanha... algumas vezes as suas súplicas eram respondidas, mas a ajuda era insuficiente para apaziguar as dores do povo, que era enorme. Várias vezes tentaram convence-lo a retirar-se daquele fim do mundo, era assim que chamavam a pequena vila.
Por outro lado ele reconhecia que a vila estava parada no tempo, os camionistas é que lhe davam vida, camionistas e turistas que entravam e saiam procurando sei lá o quê (fez o sinal da cruz...). Mas aquele era o seu lugar, aquele "Fim do Mundo", acolheu-o com amor, para ele que já foi um criminoso e drogado, aquela gente deu-lhe uma nova vida... Seus pensamentos foram interrompidos por um ruído vindo da porta.

- Que cabeça a minha - Disse o padre - Limpei isto, fiquei aqui a matutar e esqueci-me de deixar a porta aber.... Suas palavras foram cortadas assim que se apercebeu do estado da jovem com quem falava, sim, era uma jovem e vinha toda ferida, da cabeça aos pés!

- Alô rapariga, precisas de um médico - Disse o padre.

- Não! O médico vai curar-me as feridas e não a alma, senhor padre ouve-me por favor - implorou a jovem.

-Ok, ok, senta-te. Diga-me o que se passou filha?

-Não me cortes senhor Padre, escuta a minha história, triste história senhor Padre!

"Chamo-me Catija, tenho 20 anos, nasci nesta vila e não tenho irmãos, recentemente não tenho ninguém. Vi meu pai perder a vida vítima de doença, minha mãe ficar cega um ano depois do sucedido e eu tinha apenas 10 anos. Nada tínhamos além da nossa casinha e a miséria. Todos meus vizinhos viram o que nos aconteceu, mas nenhum deles nos deu a mão.Nenhum deles já serviu-nos um prato de comida nas longas noites em que eu e a minha velha mãe dormimos com ar no estômago. Senhor padre, bem sabes como está o tempo nesta região, a agricultura é uma perca de tempo para quem não tem recursos viáveis a tal atividade, mas eu esforçava-me tanto, acordava cedo e deitava-me tarde, muito transpirava para poder voltar para casa com algo para comer. Sabe senhor Padre, eu sempre fui apaixonada pela escola, mas tive de esquecer isso, ou eu sonhava e morria, ou eu acordava e tentava viver. Só eu ouvia os gemidos de lamento da minha mãe na calada da noite, ela lamentava-se por ter ficado cega e não poder cuidar de mim e o pior aqueles a quem ela já deu a mão viraram-lhe as costas, o senhor não sabe como foi difícil chegar até aqui mantendo a minha integridade, não furtar nada de ninguém, não alimentar inveja ou rancor pelo próximo...Toda gente admirava-me, diziam"sim, sim és uma grande mulher, orgulho da tua mãe."OH senhor padre, se tais elogios fossem comida, eu e minha mãe estaríamos felizes, bem felizes...
Um dia desses minha mãe adoeceu, ela precisava de ir ao hospital urgente, pedi ajuda aos vizinhos, mas nada, eles mais uma vez deram-me as costas, a minha mãe estava morrendo aos meus olhos tal e qual meu pai, tive de ser rápida ao pensar e agir. Senhor padre, naquela noite eu troquei a minha virgindade e integridade pela vida da minha mãe, fui até aos camionistas e me entreguei à prostituição, naquela noite tive sexo com mais de 7 homens, mesmo sendo inexperiente em matéria de sexo, dei-lhes prazer nunca alcançado por eles. Consegui o dinheiro e voltei para casa a correr, peguei na minha mãe e levei-a ao hospital e no tal hospital senhor padre, os medicamentos custam dinheiro, tive de me prostituir mais vezes para poder pagá-los e dar a ela uma refeição mais vitaminada. Eu me prostituía pensando na minha mãe,
seja la qual parte do meu corpo os clientes quisessem eu entregava, desde que isso implicasse mais dinheiro, a minha cabeça estava no hospital com a minha querida mãe, razão da minha vida e do meu sofrimento naqueles camiões.
Consegui senhor padre, ela teve alta, mas precisava de cuidados delicados, vitaminas,.eu ia e voltava dos camiões com sacos carregados de comida, os vizinhos olhavam murmuravam julguei que seria passageiro. Esta manhã, voltando eu para casa, terminada mais uma noitada de trabalho, um grupo de mulheres cruzou o meu caminho, traziam paus, e pedras, fiquei com medo e corri o mais rápido que pude em direção a minha casinha, elas lançavam pedras e mais tarde conseguiram alcançar-me e cercar-me, bateram-me tanto… chamavam-me prostituta, sujo da aldeia, vergonha da vila, merda de gente, filha do diabo, fraca.... alguém delas atirou fogo para minha casa, SENHOR PADRE LA DENTRO ESTAVA A MINHA MÃE DORMINDO, tentei libertar-me do cerco, eu só gritava" Mãe, Mãe, minha mãe está lá dentro, por favor...Mãeeeeee" até que alguém entre elas ouviu-me e disse "a mãe dela esta lá dentro"só assim consegui libertar-me e tentei entrar na casa para tirar de lá a minha mãe, mas as chamas eram valentes, tentei apagar o fogo, alguns ajudaram-me, depois de tanta luta, o fogo abrandou, só assim consegui ver o corpo da minha mãe todo queimado entre a brasa, ela estava morta! Todos fugiram, a policia comunitária só veio depois e fizeram-me várias perguntas, mas eu estava surda, sem forças, não consegui responder nenhuma delas, na minha cabeça só havia uma e única palavra: INJUSTIÇA!!!"


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2 comentários:

  1. Oh my God,mundo Cruel, Cruel Mundo,coitada da miúda, e o que vai dzer o Sr. Padre? In The Name Of Jesus

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  2. Há que Crer,o mundo tá virado de Costas para Deus,è um autêntico Sodoma e Gomora,tanta Crueldade. Oh my God. In The Name Of Jesus

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